sábado, 15 de agosto de 2009

Prólogos de Clarice


Quero escrever um borrao de sangue

com as gotas e coágulos pingando

de dentro para dentro.

Quero escrever amarelo ouro

com raios de traslucidez

Que não me entendam

pouco-se-me-dá

Nada tenho a perder

Jogo tudo na violencia

que sempre povoou,

o grito áspero e agudo e prolongado,

o grito que eu,

por falso humano,

não dei.


Mas aqui vai o meu berro

me rasganho as profundas entranhas

de onde brota o estertor ambicionado.

Quero abarcar o mundo

com o terremoto causado pelo grito

O climax da minha vida será a morte


Quero escrever nações

sem o uso abusivos das palavras

Só me resta ficar nú


Nada tenho mais a perder


Clarice Lispector
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1 comentários:

Will disse...

Nunca li nada da Clarice, mas este trecho é só mais uma razão que me é dada para fazê-lo em breve.
Abraços!

 
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